Vem o lençol consolar do frio
O corpo quieto e cansado
Insone e suave
Desperta a escuridão, o monstro de negro
Nebula que se aproxima lenta e segura...
Abraço o lençol infantil em desprotecção.
No fim da noite os livros enchem-se
As palavras escoam
O pensamento feroz, avança sobre tudo
O monstro, a besta diabólica do caminho a percorrer
A cumplicidade com a morte por ausência de vida
Redescobro-a lenta no sangue morno ainda.
Meu sangue vertendo.
Que importa esta inutilidade?
Estéril, apresento-me diante do espelho do passado que é o futuro
Estéril, o meu olhar escuro procura a insistência
Quantos caminhos me negaram?
De quanta dor não me reinventei, fingindo apenas que a atravessava?
Atravessou-me ela sempre tão aguçada
Sempre pontapeando a alma pequena.
E por momentos...
Por momentos essa tristeza não é minha
Por momentos eu sou por inteira:
A vida, a seiva, o sangue
Sistema fisico-quimico
O sorriso por sobre os lábios
A palavra perfeita que aninha no peito e o faz grande...
E de novo...
O meu olhar encontrando tanta impossibilidade
A solidão pegada na pele
Este respirar dificil da minha essencia
De novo dor e lamento e magoa.
Eu sou a cicatriz de mim propria
A ferida pelo que devia ter sido
O parto mal parido do meu nascimento
Uma culpa de esperma
Uma miséria avultada em mim.
As palavras pertencem-me apenas para que as deite fora
Abro-lhes as mãos
Perco-as
Como tenho perdido tudo
No fim da noite
Uivo a lua
e digo:
- Vem!
by Ar, 17 de Março, 05
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