quarta-feira, 23 de março de 2005

Inquietude

Não tenho choro
Só pranto, em silencio
E o frio que gela até o coração quebrar.
A pele esgaça-se-me
Por entre os dedos, escoa
Tudo quanto devia agarrar.

O que fui morreu.
Quem serei não nasce.
Sou assim este luto e esta gravidez de mim propria.
Projectil sem ferida
Explosão interna, falhada
Erva daninha do jardim arranjado da vida.

Dizem que há Sol
Que há, confirmam.
Mas eu precisava ver o Sol para crer no calor.
Olho para o chão
Esperando uma poça deixada pela chuva
Onde esse Sol se reflicta.

As mãos morrem-me
Em volta do pescoço tentanto o acto de estrangular
Ignobil acto de sobrevivencia.
Inerte, resto a mim propria
Ainda tento o assassintao de quem fui.
Faltam lagrimas
Um choro por mim que me dê a vida de beijo na mão...

Falho-me a cada instante
Habituada ao gelo, desvio os olhos
Sol algum me cegará
Sou criatura da noite, construida a treva.
A dor que se abate sobre mim
Tão fiel amiga
Nunca me deixou só.
De curtas verdades se constroi a prisão...

Segurem-me sa mãos apenas...
Não me falem do Sol
Eu não penso o dia.
Meus olhos incautos
Buscam a Lua, fiel companheira de caminho
Ambas condenadas ao circulo das nocturnas coisas
Que tão angustiadas nos habitam.

Querem estrelas!?
Tantas há na noite...
Querem-me a querer estrelas!?
Mas tantas há na noite
E nem uma me abriga
Nem uma me deseja o corpo

Este parto será um contrário de si mesmo
Volto a parir pelo avesso
Um corpo cadaver, de sangue frio
Abandona-lo-ei depois às penosas sortes de estar
Sobrevivente.
Se sofro?, perguntam
Não
Não sofro, habito-me!

São as visceras que chovem
Este liquido que não reflecte luz alguma
Brilho nenhum
Precipicio inoportuno de ser.
Caio...


by Ar, 20 de Março, 05

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